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Por um lanche equilibrado

  • 26 de abril de 2013
  • crn1

Na vitrine da cantina, as tentações vão da coxinha com catupiry ao refrigerante. Muitas escolas disponibilizam sucos naturais, saladas de fruta e bolos sem muito açúcar, mas a criançada gosta mesmo é dos alimentos nada saudáveis. E, com o poder de escolha na hora do lanche, a maioria acaba ignorando a importância das refeições adequadas. A questão, no entanto, não se resume à responsabilidade da escola ou do proprietário da cantina sobre o lanche que é servido, tampouco à educação que meninos e meninas recebem em casa.
Para a chef de cozinha Alessandra Brant, o problema da alimentação nas cantinas das escolas vai muito além da culpabilização dos atores diretos da questão. “Isso é muito complicado, porque existem vários aspectos. Tem que ter políticas públicas que pensem com a escola, interferência dos pais e da instituição. É um quadro que precisa ser tratado em várias instâncias, e não deixar apenas na mão da criança, que, até os 8 anos, não tem essa consciência de escolher o que é mais adequado”, opina. Ainda assim, segundo ela, o diálogo começa da escola com a cantina: é preciso ensinar aos estudantes como se alimentar corretamente e, na hora do lanche, ter a coerência de disponibilizar a opção do lanche mais sudável.
Mãe de três crianças e de uma adolescente, a consultora de enxovais Abilene Braga, 40 anos, sempre fez questão de que a alimentação regrada de casa seja seguida à risca no ambiente escolar. O segundo filho, Eric, 6, é a única criança em idade escolar, e leva todos os dias lanches saudáveis, como bolos e biscoitos caseiros e suco feito da fruta. O menino garante preferir a comida que a mãe prepara aos alimentos oferecidos na escola. “Todos os meus filhos tiveram alergia ao leite até os 5 anos, então fui me educando a fazer tudo em casa. Até para os aniversários, acho difícil terceirizar”, conta Abilene.
Cuidados – Por mais que Eric goste de comer direitinho, ele adora as chamadas guloseimas, como brigadeiro e nuggets, o que leva a constantes questionamentos: por que ele não pode comer o mesmo lanche que os amigos? Abilene cede de vez em quando e compra pão de queijo. “Eu sei que na cantina da escola tem salada de frutas, gelatina e suco, mas eu só vejo as crianças comendo minipizzas e salgados, como coxinha”, comenta. Ainda assim, ela sabe que nem sempre é possível ficar de olho na lancheira. “É preciso abrir exceções. Acho que as pessoas que dão o dinheiro para os filhos não têm muito tempo para preparar em casa”, pondera.
De acordo com a chef Alessandra, mesmo quando os pequenos se recusam a comer corretamente, é necessário persistir na causa. “Quando tem 4 ou 5 anos, a criança começa a dizer não para tudo. Mas, se hoje ele recusou, em alguns dias vai aceitar de novo. É preciso quebrar esse conforto, fazê-la descobrir texturas, cores, cheiros, para atraí-la”, instrui. O cuidado reflete, é claro, na saúde futura da criança. “Esse é um processo para evitar obesidade, diabetes, doenças que estão crescendo no mundo todo”, esclarece a chef.
A filha mais velha de Abilene, Catharine, 17 anos, nunca teve problemas de peso ou nutrição. Hoje, ela admite ficar mais tentada pela alimentação com açúcar e gordura, mas conta que na infância ela sempre preferiu comer direito. No terceiro ano do ensino médio, ela continua levando o lanche de casa para o intervalo das aulas. “Prefiro trazer de casa, não gosto da bagunça que vira a fila. Como pouca besteira e isso se reflete na saúde”, comenta.
Para a presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), Amábile Pácios, a mudança parte das cantinas, mas não é bom eliminar frituras e refrigerantes das escolhas a serem feitas. “Não adianta proibir a escola de vender. É preciso ensinar a criança a fazer a escolha correta, e os pais precisam fazer parte disso. Às vezes, não adianta tolher no colégio, porque se a criança gosta de coxinha, ela vai comer em alguma festa infantil, longe dos olhos da mãe. Para aprender a dosar, saber que espaço esse salgado tem na vida dela, é preciso ensinar”, defende.
Balanceado – Nas escolas públicas, a decisão sobre o lanche e o almoço servidos aos estudantes cabe aos nutricionistas da Secretaria de Educação. Atualmente, são 35 profissionais nas 14 regionais de ensino do DF. A iniciativa visa prover às crianças e aos adolescentes uma alimentação balanceada, a fim de garantir que elas tenham, no colégio, acesso aos nutrientes necessários para o bom desenvolvimento. Desde julho de 2012, as escolas vêm recebendo cada vez mais alimentos frescos, em detrimento dos enlatados e da carne de charque, por exemplo.
Em muitas regiões administrativas, a escolha do cardápio varia também de acordo com a produção da agricultura familiar local. Em Brazlândia, por exemplo, as crianças comem bastante morango. Além disso, muitas escolas contam com hortas, que servem não apenas para o preparo das refeições, mas para que os estudantes aprendam matemática e biologia fora da sala de aula. “Não temos uma avaliação de aceitação do lanche, mas, com relação ao que a gente vê de sobras nos pratos, que seria um indicador, não temos desperdício de frutas e hortaliças. As crianças comem tudo. Muitas vezes, trata-se de um alimento que elas não têm acesso em casa e podem experimentar na escola”, aponta a coordenadora de alimentação escolar da secretaria, Eliene Ferreira de Sousa.
Ação conjunta com o governo federal
Em parceria com o Ministério da Saúde, a Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep) desenvolve a campanha alimentação saudável para melhorar a qualidade dos lanches oferecidos nas instituições privadas do país. No Distrito Federal, o sindicato aderiu, e o tema está em debate nos colégios. O processo ocorre em três etapas: em 2012, 18 mil escolas receberam cartilhas educativas para as cantinas, e os proprietários das lanchonetes tiveram a oportunidade de fazer um curso on-line sobre alimentação saudável para crianças e adolescentes. Em 2013, os sindicatos estaduais devem começar a oferecer palestras em busca de esclarecimentos e de formação.
O plano é que, em 2014, crianças e famílias passem por campanhas de conscientização. Dessa forma, os estudantes poderão fazer escolhas conscientes sobre a própria saúde. “Comprar lanche não é um status no âmbito escolar. Muitos pais preferem mandar de casa, e a cantina tem a opção do que é saudável e do que não é. É necessário que a família e a escola tenham um grande diálogo com a criança. É preciso educar para uma vida saudável”, defende Amábile Pácios, presidente da Fenep. A intenção do Ministério da Saúde é reduzir o número de adultos obesos no país, enquanto a Fenep se interessa pela educação alimentar adequada desde a infância.

                        Autor/Fonte: Correio Braziliense
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